O ser humano é um animal que possui uma característica
que nenhum outro possui: a vaidade. Cada um usa o cabelo do jeito que mais lhe
agrada, as roupas que melhor lhe vestem, o perfume mais envolvente e por aí
vai. Salve raríssimas exceções, as pessoas só saem às ruas após se aprovarem no
espelho. Todavia existe um detalhe que não aparece ali refletido e dificilmente
alguém percebe em si mesmo: o hálito.
Halitose é o odor desagradável proveniente do ar que
exala da boca quando fazemos a expiração do ar. Normalmente este odor pode
variar de acordo com a idade da pessoa, com o período do dia e agrava-se
consideravelmente quando a fome ou a sede aumenta. Segundo a Associação
Brasileira de Halitose (ABHA), cerca de 1/3 da população brasileira sofre com
este problema, que embora não seja uma doença, é um sinal de que algo está em
desequilíbrio no organismo. Existe também o hálito matinal, que, apesar de ter
um odor muito desagradável, não deve ser considerado halitose, pois 100% das
pessoas acordam com este cheiro característico devido às alterações que
acontecem na boca durante a noite de sono, como a diminuição da salivação que
propicia um aumento quantitativo da flora bacteriana bucal. Após a primeira
higienização do dia e o desjejum, este cheiro deve desaparecer.
Aproximadamente 90% das causas de halitose estão na boca
e tudo começa com uma higienização oral precária, que acaba provocando uma
cadeia de alterações como língua saburrosa e acúmulo de placa bacteriana, que
por sua vez causam gengivites, periodontites e cáries. Restaurações e próteses
mal adaptadas, materiais plásticos usados na confecção de próteses, cavidades
retentoras de resíduos alimentares, xerostomia e algumas doenças bucais também
contribuem bastante para o aparecimento do mau hálito.
Já as causas extra-bucais
mais frequentes são as doenças da orofaringe, bronco-pulmonares, digestivas,
alcalose, doenças hepáticas, diabetes, nefrite, tabagismo, alcoolismo e, até
mesmo, estresse e ansiedade. Nestes casos a halitose é um sintoma de alguma
doença e um médico especialista estará mais capacitado para resolver o problema.
O diagnóstico é facilmente
feito baseando-se na história clínica e na constatação do mau cheiro
característico. Hoje em dia já existem até equipamentos, uma espécie de
bafômetro, capazes de detectar e medir os gases responsáveis pelo mau hálito,
sendo um valioso aliado na descoberta de suas possíveis causas. Num consultório
odontológico a investigação inclui exame detalhado da boca em busca dos fatores
causadores.
O tratamento consiste na
identificação e eliminação da causa. A prevenção é o processo mais eficaz para
o combate à halitose e acaba sendo a principal forma de tratamento. Beber
bastante água e se alimentar em intervalos e quantidades menores ajudam a
prevenir o problema. Alimentos como carnes gordurosas, frituras, cebola, alho,
refrigerantes, bebidas alcoólicas e alguns alimentos industrializados favorecem
o aparecimento do mau hálito. Portanto, hábitos alimentares saudáveis e
higienização bem feita ao acordar, após as refeições e antes de dormir reúnem
os cuidados mais adequados para se prevenir a halitose.
Por ser um problema mais
facilmente percebido por outras pessoas do que pelo próprio portador, a
halitose, apesar de não ter grandes repercussões clínicas para o indivíduo,
pode provocar sérios prejuízos psicossociais. Os mais comuns são o afastamento
das pessoas com quem convive e a dificuldade de estabelecer relações amorosas.
Com isso logo surgirão a insegurança para a aproximação de outras pessoas, resistência
ao sorriso e baixo desempenho profissional quando se trabalha em equipe. Diante
destes fatos, o que devemos fazer quando estamos diante de uma pessoa que
possui mal hálito? Virar-lhe as costas ou alertá-la? Uma pesquisa realizada
pela ABHA, que pretendia estudar o perfil do portador de halitose, apontou que
76% dos participantes foram alertados por pessoas de seu convívio social e/ou
familiar, sendo 54 % familiares, 27% cônjuges e 19% amigos. Embora 49% dos
participantes tenham recebido o alerta com constrangimento, 48% acharam que
quem o alertou fez bem, 35% interpretaram esta atitude como uma demonstração de
afeto e 10% consideraram que a pessoa que o alertou foi corajosa. Constatou-se neste estudo que 99% desses participantes acham que quem tem
halitose deve ser alertado. Este dado é de extrema relevância,
pois derruba o mito de que a pessoa portadora da halitose se sente ofendida e
que não se deve alertá-la sobre o problema.
Se você tem halitose, comece
procurando seu dentista. Se a causa não for odontológica, ele te encaminhará ao
serviço médico especializado. Ah! Não se ofenda se, por acaso, alguém lhe fizer
este alerta! Encare como uma declaração de amizade.